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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A arte de ser avó

 

 

 

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A arte de ser avó

© Raquel de Queiroz

Um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou parto, o doutor lhe põe nos braços uma criança.
Completamente grátis - nisto é que está a maravilha.
Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida.

No entanto - no entanto! - nem tudo são flores no caminho da avó.
Há acima de tudo, o entrave maior, a grande rival:
a mãe. Não importa que ela em si, seja sua filha.
Não deixa por isso de ser a mãe.
Não importa que ela ensine à criança a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha" e lhe conte que de noite, às vezes, ela de repente acorda e pergunta por você.
São lisonjas, nada mais.

Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante nos triângulos conjugais.
A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante.
Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o.
Embala-o de noite.
Contra si tem a fadiga, a rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.

Já a avó não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto.
Mora em outra casa.
Traz presentes.
Faz coisas programadas, leva a passear, "não ralha nunca", deixa se lambuzar de pirulito.
Não tem a menor pretensão pedagógica. Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto:
o bibelô que se quebrou porque ele - involuntariamente! - bateu com a bola nele.

Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações:
os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro;
e depois o sorriso malandro e aliviado porque ninguém zangou, o culpado foi a bola mesmo, não foi, vó? Era um simples boneco que custou caro.
Hoje é relíquia:
não tem dinheiro que pague!

eu e a Mariana no jardim2

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